quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O rei mendigo, o gênio burro.

Fuço o lixo de minhas memórias, encontro apenas restos, tudo danificado, nenhuma delas esta inteira, algumas são tão bonitas, mas faltam pedaços, e estão sujas, tento limpar um fragmento de boa lembrança, corto meu dedo e xingo, jogo-o na parede e peço que o diabo o leve consigo.


A dor é boa, prova pra mim que ainda estou vivo, ver o sangue vermelho quente, é o mais próximo que chego das cores em meu mundo cinza, o sangue borra as folhas em que escrevo minhas lamurias, meu sangue tem cheiro de fuligem, as pessoas passam ao redor, e o que pra elas é abominável, para mim parece lindo.


O texto manchado de sangue na folha é feio, burro, ortografia ridícula, formatação sem pé nem cabeça, mas é real, traz alivio pra dor e luz temporária a escuridão, é o ombro amigo que não encontro em formas vivas e me ajuda, meu querido e burro pedaço de papel, meu grito que não ecoa.


O relógio aponta 00:00 mais um dia de derrota vencido, o céu é negro, a sujeira dessa maldita cidade esconde as estrelas, me indago, quando vou escrever algo bonito, que possa ser dividido e faça bem aos demais, minhas palavras não tem estrelas, só essa lua magra, que parece estar caindo.


Talvez se eu pudesse correr no campo, ou molhar os pés no mar, ou viver entre os animais, talvez se eu pudesse fugir dessa futilidade, e se todas as tvs não sintonizassem feito a minha, ai talvez eu pudesse escrever sobre coisas bonitas e que fizessem olhos brilharem e bocas sorrirem


Escreveria:
Sobre as flores
Sobre os pássaros
Sobre amores
Sobre abraços
Sobre luz
Sobre paz


Mas continuo aqui, escrevendo:
Sobre porres
Sobre mulheres loucas
Sobre fodas vazias
Sobre dor
Sobre o gosto amargo
Sobre deuses mortos


E tento queimar as latas de lixo das minhas lembranças, enquanto a musica pesada que vaza dos fones soca o ar com raiva, enquanto a insônia consome minha lucidez e as noites se arrastam como se não houvesse um fim, e eu juro pelos diabos, que um dia as paginas não terão sangue, e belas palavras vão iluminar outras vidas.

Pablo Henrique

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